sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Na mão de Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental, Sonetos Completos

1 comentário:

fénix renascida disse...

Como pôde este poeta, meu conterrâneo,ter decidido por termo à sua vida? Se tivesse decidido simplesmente descansar na mão de Deus...Talvez agora lá esteja, feito menino.